Planalto prepara ‘reação’ a eventual retaliação do PR
Sérgio Lima/Folha
Apeado do Ministério dos Transportes e desmoralizado no notíciario, o Partido da República organiza para a próxima semana um encontro de seus caciques.
Vai a debate uma interrogação: vale a pena continuar apoiando o governo Dilma Rousseff no Congresso?
Dilma e seus operadores consideram remota –“remotíssima”, no dizer de um auxiliar da presidente— a hipótese de o PR migrar para a oposição.
Porém, avalia-se que um pedaço da legenda, submetido à asfixia dos Transportes, deve evoluir da fidelidade para a conspiração contra o governo.
Em resposta, o Planalto planeja dividir o PR, isolando os aliados tóxicos e prestigiando os que se mantiverem fieis.
A operação envolve riscos. Mas, a julgar pelo que diz em privado, Dilma parece decidida a esticar a corda.
Chama-se Valdemar Costa Neto (PR-SP) o principal personagem da encrenca. Por determinação de Dilma, será desligado da tomada.
O problema é que o deputado Valdemar, secretário-geral do PR, é quem controla a legenda.
No papel, o presidente é o ex-ministro e senador Alfredo Nascimento (AM). No mundo real, quem dá as cartas é o mensaleiro Valdemar.
Na avaliação do Planalto, o poder de Valdemar cresce desde Lula na proporção direta da influência dele na máquina estatal.
Imagina-se que, afastado do cofre dos Transportes, Valdemar vai experimentar uma natural e gradativa perda de influência no partido.
Para apressar o processo, Dilma planeja cacifar os líderes do PR que, embora insatisfeitos com o monopólio de mando de Valdemar, jamais o confrontaram.
Encabeçam a lista os senadores Blairo Maggi (MT) e Clésio Andrade (MG). Serão estimulados a medir forças com Valdemar.
Embora periférico no condomínio governista, o PR não é uma legenda negligenciável. Na Câmara, soma 41 votos. No Senado, seis.
Parêntese: na fase pré-crise, os senadores do PR jantaram no Alvorada e posaram sorridentes ao lado da anfitriã. Foto lá no alto. Fecha parênteses.
Há na Câmara um problema adicional. O PR lidera um bloco integrado por outros sete partidos: PRB, PTdoB, PRTB, PRP, PHS, PTC e PSL.
No total, esse bloco leva ao painel eletrônico da Câmara 64 votos. Cuida-se de afastar os 23 que não são do PR de eventuais movimentos de rebeldia.
Além de monitorar Valdemar e suas adjacências, o Planalto mede os passos do deputado Anthony Garotinho, visto como uma espécie de “bala perdida”.
Presidente do diretório do PR no Rio de Janeiro, Garotinho paira sobre a liderança de Valdemar.
Além de dispor do próprio voto, ele exerce influência sobre os outros seis deputados que integram a bancada fluminense do PR.
A tática da divisão espanta os demais partidos da coligação de Dilma. Receia-se que, bem sucedida no PR, a presidente se anime a impor o método a outros aliados de "dois gumes".
Escrito por Josias de Souza às 05h28