Lula Marques/Folha
A bancada de senadores do PT reduziu o pé direito de suas ambições. Deu-se depois de uma reunião com o presidente da legenda, José Eduardo Dutra.
O petismo migra da defesa do revezamento da presidência do Senado com o PMDB para o respeito à tese da proporcionalidade das bancadas.
Ao tempo em que digere a perspectiva de uma quarta presidência de José Sarney (PMDB-AP), o PT prepara-se para preencher o espaço que lhe cabe na Mesa.
Com 14 senadores, vai à próxima legislatura como a segunda maior bancada. Com esse tem o direito de ocupar um antigo “feudo” do DEM.
Trata-se da Primeira Secretaria do Senado, epicentro das mazelas que servem de matéria prima para as crises.
Espécie de prefeito do Senado, o primeiro-secretário manuseia orçamento bilionário. Coisa de R$ 2,7 bilhões por ano.
Acumula poder no atacado e compra simpatias no varejo. Trata de comissões, compras e contratação de serviços.
Administra a folha salarial dos concursados e avaliza os contracheques dos não concursados que lotam os gabinetes dos senadores.
Autoriza viagens e libera diárias. Mantém os apartamentos funcionais e assina os cheques do auxílio moradia dos colegas. Faz e acontece.
Sob a atmosfera tóxica da Primeira Secretaria, milhões de reais somem nos desvãos de contratos obscuros. Há uma dezena de inquéritos abertos no Ministério Público.
Ali, senadores flertam cotidianamente com o malfeito e burocratas como o ex-diretor-geral Agaciel Maia constroem fortunas.
Em meados de 2009, quando ardia ns manchetes a crise que tisnou a terceira presidência de Sarney, o Planalto socorreu o senador.
No dia 3 de julho, Lula recebeu no Planalto um Sarney cambaleante. Àquela altura, até o DEM cobrava que ele se licenciasse do cargo.
Lula aconselhou Sarney a resistir. Prometeu o apoio do PT. No mesmo dia, Dilma Rousseff, à época chefe da Casa Civil, achegou-se aos holofotes.
Defendeu publicamente a permanência de Sarney, já nessa época um ferrenho defensor da candidatura presidencial que Dilma iria personificar.
Ela classificou a artilharia contra Sarney de “guerra política”. Para desqualificar a oposição, pronunciou o seguinte raciocínio:
"A primeira coisa que eu, como gestora pública, olharia é: Quem é o responsável pelos contratos, pelas passagens, por tudo? É a Primeira Secretaria...”
“Eu soube que os integrantes da Primeira Secretaria foram do DEM. Estranhamente, os integrantes do DEM pedem o afastamento do presidente Sarney".
Barrados nas urnas, Efraim Morais (PB) e Heráclito Fortes (PI), os dois últimos ‘demos’ a ocupar a Primeira Secretaria não estarão no Senado em 2011.
O partido deles, que tinha a segunda maior bancada, murchou para a quarta colocação. O PT tomou-lhe a posição.
Até o início de dezembro, o partido de Dilma indicará o nome do novo primeiro-secretário.
Depois de tomar posse, Dilma já poderá cobrar de um petista a reforma administrativa e a moralização de costumes que Sarney, o DEM e o etcétera que os cerca não entregaram.
Escrito por Josias de Souza às 06h49