Renan e Cunha estão em conflito
A
votação do projeto de terceirização causou um embate entre os
presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e ameaça paralisar a análise de outros projetos no
Congresso.
Cunha
comandou pessoalmente uma operação para votar rapidamente o projeto de
terceirização na Câmara, finalizado na quarta. Depois disso, Renan
afirmou que o tema será analisado “sem pressa” no Senado.
Irritado
com o colega, Cunha, em entrevista à reportagem ontem, ameaçou segurar
projetos do Senado caso a terceirização seja atrasada ou engavetada pelo
Senado. Um deles é a validação de benefícios tributários concedidos por
Estados para atrair investimentos, aprovado no último dia 7 pelos
senadores.
O
projeto seguiu para a análise dos deputados, mas agora pode ser
analisado em ritmo lento, segundo Cunha, para dar o troco em Renan. “A
convalidação [dos benefícios] na Câmara vai andar no mesmo ritmo que a
terceirização no Senado”, afirmou Cunha. “Pau que dá em Chico também dá
em Francisco. Engaveta lá, engaveta aqui”, completou.
A
reportagem apurou que Renan não descarta segurar o texto da
terceirização no Senado durante todo seu mandato como presidente da
Casa, até janeiro de 2017.
Parlamentares
próximos a ele dizem, no entanto, que o peemedebista poderá mudar de
ideia se houver pressão do empresariado, que tem pressa na votação. As
centrais sindicais pressionam para que o projeto não vá a voto.
Calheiros
e Cunha estão em conflito desde o imbróglio pela nomeação de Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Ministério do Turismo, na semana passada.
Aliado
de Cunha, Alves viu sua nomeação ser adiada diversas vezes devido à
resistência de Renan. O senador queria manter seu afilhado político
Vinicius Lages na vaga, mas a presidente Dilma Rousseff havia prometido o
cargo a Alves caso o ex-deputado não estivesse na lista de autoridades
envolvidas na Operação Lava Jato. Desde então, Cunha e Renan não
conversam.
Pedalada
Mesmo
com a disposição de Cunha em retaliar o Senado atrasando a votação de
projetos, a ideia de Renan é segurar ao máximo a votação da proposta da
terceirização para evitar seu retorno, em curto prazo, para a Câmara.
Pelas
regras do Congresso, se o Senado fizer mudanças no projeto, ele deve
retornar para nova votação na Câmara antes de seguir para sanção
presidencial. Assim, os deputados ficam com a palavra final sobre a
terceirização.
Renan
disse que, do jeito que foi aprovada na Câmara, a proposta representa
uma “pedalada” contra os direitos dos trabalhadores. A Câmara estendeu a
possibilidade de terceirização a todas as atividades de uma empresa.
“Vamos fazer uma discussão criteriosa no Senado. O que não vamos
permitir é ‘pedalada’ contra o trabalhador”, disse Renan.
A
frase é uma provocação a Cunha, que tem pressa em ver o projeto
aprovado, e também a Dilma, cujo governo é acusado de promover
“pedaladas” fiscais para melhoras as contas públicas (neste caso a
expressão se refere a adiar despesas).
Cunha
é a favor de liberar a terceirização da atividade-fim das empresas
privadas. Por isso, os senadores que estão contra a mudança terão como
estratégia atrasar ao máximo a tramitação da proposta.
A
ideia é que o projeto tramite em pelo menos cinco comissões permanentes
da Casa, que vão realizar audiências públicas com vários setores
envolvidos no assunto.
Senadores
contrários à versão aprovada na Câmara também querem sessões temáticas,
no plenário do Senado, para discutir o assunto em profundidade.
Na Câmara, a proposta foi aprovada com amplo apoio do PMDB. No Senado, a posição do partido é outra.
Líder
do PMDB no Senado, o senador Eunício Oliveira (CE) afirmou nesta quinta
que alguns pontos precisam ser modificados, inclusive o que trata da
principal mudança. “A terceirização não pode ocupar o espaço da
atividade-fim.”
Líder
do PT no Senado, Humberto Costa (PE) afirmou que os petistas tentarão
derrubar a proposta se esse ponto não for alterado. Com as duas maiores
maiores bancadas do Senado, PT e PMDB têm poderes para aprovar uma
versão mais favorável aos trabalhadores, caso conquistem apoio de outros
partidos.
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