Dificilmente o ex-presidente José Sarney poderá perder a presidência do Senado, não só pelo seu passado político, que o leva a conhecer bem o ser humano, não apenas por sua inegável capacidade de articulação parlamentar, mas também porque o destino, que sempre lhe foi favorável, o tornou peça-chave para consolidar a candidatura da ministra Dilma Roussef nas eleições presidenciais de 2010.
Quem observar o quadro com a necessária isenção, pode verificar, sem muito esforço, que uma derrota sua no início de fevereiro se transformaria num insucesso enorme para o próprio governo Lula. Basta lembrar que Sarney é do PMDB e o PMDB detém seis ministérios, como “O Estado de S. Paulo” publicou: Saúde, Defesa, Agricultura, Comunicações, Minas e Energia e Integração Nacional. Assim, o partido é a presença mais expressiva na coligação de forças em torno do executivo no Congresso. Isso não é por acaso. Está no jogo do poder.
José Sarney, inclusive, como se percebe no noticiário político, é, no fundo, o fiador do acordo que torna possível a candidatura da ministra chefe da Casa Civil. Esta candidatura interessa tanto ao PMDB quanto ao governo. Uma ruptura, ou um abalo causado pela investida do senador Tião Viana, implicaria a perda de pastas essenciais, atingindo o tradicional esquema de influências no plano do poder.
Por que o Partido do Movimento Democrático Brasileiro se afastaria do Planalto? Para apoiar José Sarney? Para acolher Aécio Neves? Nenhuma das duas alternativas faz o menor sentido. Inclusive, na hipótese de Dilma Roussef vir a perder nas urnas para o governador de São Paulo, a legenda, depois do vendaval, aguardaria o chamado para desempenhar na futura administração o mesmo papel que desempenha agora.
Tem cacife para isso. É um partido muito grande. Elegeu 1.200 prefeitos, segundo “O Estado de S. Paulo”, possui 4.671 diretórios municipais, no total de 5.569 cidades, tem 20 senadores, 95 deputados federais, 172 estaduais, 8.497 vereadores. Nenhum outro é detentor de organização tão forte e ampla. Nem mesmo o PT, embora esteja há seis anos no governo federal. Uma derrota de Sarney para Tião Viana não atingiria apenas a legenda, mas toda a rede de articulação em torno do presidente Lula e de seu projeto para retornar a Brasília em 2014 ou 2015, o mais provável 2015, com o fim da reeleição.
O PMDB de hoje, como o antigo PSD de ontem, pode-se dizer, possui uma vocação irreversível para o poder. No meio da ironia, representa, sem dúvida, um fator de equilíbrio institucional.
Outro assunto. Reportagem de Patrícia Duarte, publicada em “O Globo”, de 27/01, focaliza com base em dados do Banco Central as contas externas brasileiras em 2008. Preocupam. Sobretudo em face da queda do saldo comercial. Mas existe outro aspecto, igualmente crítico, menos aparente nos números revelados.
Em 2008, ingressaram no País 45 bilhões de dólares em investimentos internacionais. Saíram 33,8 em remessas de lucros e dividendos. Dois motivos explicam a preocupação:
1) a matéria fala das remessas legais. E a quanto montaram as ilegais?
2) Para quais setores foram canalizados os investimentos? É uma questão fundamental. Pois se o maior volume destinou-se para o mercado financeiro, em termos de desenvolvimento econômico e social, nada representaram. Aplicar nas taxas de juros não cria, muito menos gera e recupera empregos.
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