segunda-feira, 18 de abril de 2011

Aécio e a Lei Seca: faça o que eu digo, e não o que eu faço

Em vídeo de 2009, senador mineiro pregou obediência à norma e uso de bafômetro “para educar” motoristas com mais vigor

Rio - Um dia após o senador Aécio Neves (PSDB-MG) ser parado em blitz no Rio com carteira de habilitação vencida desde 15 de fevereiro e não soprar o bafômetro, vídeos antigos em que o então governador mineiro pregava o respeito à Lei Seca foram o assunto do dia na Internet. A desobediência do político às regras na madrugada de domingo lhe valeram multas que totalizam R$ 1.149,24 e 14 pontos na carteira, apreendida na ação.
Foto: Arte
Foto: Arte
Num vídeo, de julho de 2009, o senador recomenda que os motoristas mineiros não dirijam após ingerir bebida alcoólica. “Prefiro que alguém passe o carro para quem não bebeu a ser multado e levar 7 pontos na carteira”, aconselhou, durante uma campanha de conscientização no trânsito, em Belo Horizonte.

Na mesma gravação, Aécio recomendou ainda o uso do bafômetro para educar os motoristas infratores. “Acho que é uma forma de educar com um pouco mais de vigor”, completou o agora ex-governador de Minas Gerais e um dos principais nomes da oposição para disputar a Presidência da República nas eleições de 2014.



PROVAS E EXAME MÉDICO

Para o presidente da Comissão de Transportes da Câmara e relator do projeto que originou a Lei Seca, deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), a recusa ao teste pegou mal. “Há clara presunção de ingestão de álcool”, afirmou. Vindo de restaurante japonês com a acompanhante e casal de amigos, Aécio foi abordado pela blitz por volta das 3h30 na esquina das ruas Bartolomeu Mitre e General San Martin, no Leblon.

Durante a atuação dos fiscais, o casal voltou ao restaurante para buscar um motorista de táxi, que conduziu a Land Rover dirigida irregularmente pelo senador.

Para voltar a ter direito de dirigir, Aécio terá que renovar o documento no Detran de Minas Gerais, pagando taxas e submetendo-se a provas e exames médicos. A assessoria de imprensa do político não informou se ele já havia dado entrada na renovação do documento. Em nota, Aécio negou que tenha se recusado a fazer o teste do bafômetro, alegando que não havia necessidade de soprar já que providenciara outro condutor para o veículo.

Ontem, o governador Sérgio Cabral considerou o episódio superado. “Ele agiu como qualquer cidadão e não fugiu da aplicação da lei. Hoje (ontem) de manhã, o Aécio me ligou, elogiando a educação e o comportamento dos fiscais”.

Também defendendo Aécio, o senador Lindberg Farias (PT-RJ) discutiu com militantes pelo microblog Twitter. “Acho baixaria vocês ficarem falando do Aécio. Podia acontecer com qualquer um. Façam críticas políticas. Tenho vergonha disso!”, desabafou ele num post.

Fiscalização ‘meia-bomba’ em Minas no Governo Aécio

A partir do próximo mês, as operações Lei Seca serão intensificadas em Minas Gerais. Membros da cúpula do governo mineiro estiveram no Rio nas primeiras semanas de 2011 para avaliar o projeto e ‘importar’ ideias.

Em Minas, as próprias autoridades admitem que a Lei Seca não funcionou como deveria. Por coincidência, a lei foi implantada justamente no período em que o governador do estado era o atual senador Aécio Neves (PSDB). Entre 2008 e 2010, 3.890 motoristas mineiros foram detidos por dirigirem alcoolizados. No mesmo período, foram 25.391 fluminenses.

Nos próximos dias, Minas receberá nova remessa de bafômetros e frota de para dar início ao cerco aos maus motoristas.

Movimentos por mais rigor na lei

Projeto de lei tramita no Congresso Nacional para dar mais rigor à Lei Seca, definindo novas maneiras de comprovar que motorista está sob efeito de álcool, além do bafômetro e do exame de sangue. “Existem outras avaliações do estado do motorista que podem ser descritas pelos policiais”, diz o autor da proposta, deputado Hugo Leal (PSC-RJ).

Sinais que revelam embriaguez, como a fala enrolada, falta de equilíbrio e o hálito de álcool valeriam como prova. “As pessoas encaram o acidente de trânsito como um crime menor. Isso precisa ser mudado”, defende o parlamentar. Para o deputado federal Carlos Alberto Lopes (PMN-RJ), o fim da brecha na lei precisa de mobilização da sociedade. “A população precisa exigir do estado mais rigor”, acredita.

Reportagem de Thiago Feres e Maria Luisa Barros


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