quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Senador Paulo Paim é entrevistado por Paulo Henrique Amorim





SENADOR PAIM: POR QUE OBAMA NÃO SE CONSIDERA UM CANDIDATO NEGRO

ENTREVISTA COM O SENADOR PAULO PAIM PT/RS

O senador petista Paulo Paim acredita que Obama acertou ao extrapolar a questão racial

Conversa Afiada: A que distância está o Brasil de eleger um presidente negro?

Paulo Paim: Nos Estados Unidos também nenhum ativista, nenhum militante da causa negra ou da justiça, da igualdade e da liberdade para brancos e negros sonhava que neste ano estaríamos elegendo um presidente da República negro. Aqui também não é diferente, as eleições de 2010 estão aí, 2014, enfim. Eu acho que o debate feito nos Estados Unidos trouxe ao palco essa oportunidade de ver e de demonstrar que a capacidade de um homem não se mede pela cor da pele.

CA: Qual é o tipo de obstáculo que a discriminação racial oferece nos Estados Unidos e oferece no Brasil e que fez com que só agora se tornasse possível, apesar de não termos o resultado da eleição ainda, a eleição de um presidente negro?

PP: Nos EUA, sem sombra de dúvida, a década de 60 foi muito importante. O debate acontecido lá com a conquista dos direitos civis dos negros norte-americanos, com aquela belíssima caminhada em Washington, liderada por Martin Luther King. Em seguida o Supremo Tribunal Federal reconheceu e o congresso acabou referendando numa lei. Aqui no Brasil nós sempre dizemos que, infelizmente, ainda que, apesar dos 120 anos da abolição, aos negros foi dada a palavra liberdade, mas não foram assegurados os direitos plenos. Por isso eu sou autor, há cerca de 10 anos já, do estatuto que eu chamo da Igualdade Social e Racial. Acho que com a aprovação do estatuto avançaríamos, mas é evidente eu teria de avançar ainda no campo econômico. O estágio econômico dos negros dos Estados Unidos e no Brasil é ainda muito distante. Isso faz com que as campanhas, mesmo agora, se olharmos para as campanhas municipais, a distância econômica que os negros puderam usufruir ainda é muito diferente da comunidade branca.

CA: Lá, nos EUA, o Obama usou o recurso de não usar a carta da discriminação racial. Ele não é um candidato negro. Não se intitula como tal, mas sim como candidato democrata com as idéias tais, tais e tais. Aqui no Brasil um candidato negro, sendo o senhor um negro, deveria usar o mesmo instrumento, o mesmo tipo de recurso?

PP: Sem sombra de dúvida, tenho certeza absoluta. No meu caso, venho de um estado onde a população negra é de 11%. Sou negro mas nunca fiz da militância contra o preconceito a única causa da campanha. Sempre dizia ao povo gaúcho que hoje seria um senador do Rio Grande do Sul, de todo o povo gaúcho. É isso que o Barack Obama fez de forma correta. Quem quiser ser um candidato só de brancos ou só de negros está fadado ao fracasso absoluto.

CA: Qual é a sua avaliação? Digamos que, por hipótese, as pesquisas estejam certas e eventualmente Barack Obama se torne presidente dos EUA. Qual impacto disso na sociedade brasileira?

PP: Acho que vai ser muito positivo, primeiro para a auto-estima daqueles que acreditam, como eu dizia no início, que ninguém deve ser discriminado por causa de sua cor, pele, sexo, procedência ou até mesmo pela orientação sexual. Eu acho que a vitória do Barack Obama, que é um militante dos direitos humanos, significa esse verdadeiro reconhecimento do corte da diferença de que cada um de nós é um ser especial e, nessa concepção, deve ser reconhecido. Isso por um lado. Por outro lado, eu não tenho dúvida que o Bush entrou para a história como o senhor da guerra e o Obama entrará para a história como senhor dos direitos humanos e, por isso, será muito melhor a relação com países emergentes, como é o nosso caso.

CA: Muito obrigado Senador Paulo Paim, senador pelo PT do Rio Grande do Su

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