quinta-feira, 27 de maio de 2010

Senador Valter Pereira acusa Puccinelli de usar a máquina, mas permanece no PMDB


Liziane Berrocal

Após uma longa espera, o senador Valter Pereira finalmente tomou uma decisão de seu rumo político. Em discurso na tribuna do Senado Federal, o senador afirmou seu rompimento com o governador André Puccinelli, o que significa independência no processo da disputa ao governo do Estado.

Em discurso na tribuna o Senador, que foi um dos fundadores do “Movimento Democrático Brasileiro” em Mato Grosso do Sul, usou da emoção e para comunicar que rompeu politicamente com André Puccineli.

“Na verdade estou fazendo uma opção pela dignidade de uma história que ajudei a escrever ao logo de décadas de militância política. Quando na segunda metade dos anos 1960 quando assinei a primeira filiação partidária da minha vida no antigo MDB. Na época eu tinha clara convicção que não me inscrevia a um mero partido político. Inscrevia-me na verdade numa embrionária frente que resistia a ditadura que mostrava sua força e seus tentáculos.

E ajudei a escrever essa mesma página quando a ditadura tentou confiscar a identidade daqueles que simbolizou toda essa história. O MDB passou a ter a letra P e ganhou vida alcunhado de PMDB, no final dos anos 60, quando a elite militar já antevia o fim do regime militar. Na época o partido fragmentou-se originando outras agremiações. Entendi que deveria seguir Ulysses Guimarães, e por isso resolvi seguir no PMDB. Comecei como simples militante, numa época que isso era um verdadeiro desafio. Quem viveu aqueles momentos, especialmente no interior do Brasil, sabe quando era difícil. Nunca fui processado pelo regime militar, mas fui preso injusta e arbritariamente três vezes. Precisava superar o preconceito fomentado pela ditadura militar na TV e no radio. Lembro-me do jargão: Brasil Ame-o ou deixe”.

Os que se opunham ao regime não amavam a pátria e portanto deveriam abandonar. Imagine como essa propaganda repercutia na cabeça das pessoas mais simples, lá do interior. No entanto esse desafio que enfrentávamos no interior, era compensado com uma forte retaguarda das lideranças nacionais do MDB. Quantas vezes eu estive engajado em meu estado para receber Ulisses Guimarães, Franco Motoro, Mario Covas e tantos outros. Quantas reuniões podemos contar com jovens deputados como João Gilberto e Alceu Colarres. O Antigo DB unia cúpula e base num só partido. Muito daqueles que conheci quando eu era apenas muito jovem, e a partir de 1979 quando cheguei a câmara.

Passei a exercer os mais variados cargos na direção estadual e nacional. Nos diretórios do MDB e PMDB, de MT a MS, fui tesoureiro, secretário, presidente regional e estadual e líder do partido não só na AL de MT como em MS. No colégio eleitoral que elegeu Tancredo presidente, eu estava lá. Representando a AL de MS por indicação do PMDB. Fui liderado de Freitas Nobres e vice-líder de Luis Henrique e Tarcisio Delgado. Fui vogal na executiva nacional, na presidência de Quércia e de Jarbas Vasconcellos. Em 1989, o PMDB mergulhou em sua mais profunda crise em MS. Se atolava na crise, onde lideranças das mais conceituadas quando Tebet e Martins, Orro e André Puccinelli, debandaram para se alojarem nos ninhos dos tucanos. Conseqüência da crise.

Dois anos depois, priorizei a pacificação e reconstrução do partido, requisitos para resgatar o lugar do PMDB em MS. Com esse espírito não apenas abri mão, não apenas abri espaço para essas ‘ovelhas desgarradas’, como fui busca-las. Eles se encontraram em posição de desconforto, mas precisavam de estímulo para voltar. Mais do que isso, em 1992 removi obstáculos para eleger Juvêncio para a prefeitura de CG. O resultado se expressou na eleição de Martins, Ramez e Puccinelli. A eleição daquele ano foi determinante na ascensão de Ramez ao cenário nacional. Com a abertura que promovi, o PMDB reconquistou seus passos. Paguei um alto preço na longa interrupção da carreira parlamentar que só terminou com Pereira

Mais de três anos, meu direito de conquistar a reeleição é contestado. Os apelos a puccinelli resultou um critério. O único compromisso que exigi do governador foi que a máquina pública não seria manejada para influir nos resultados das prévias. Era também o mínimo que eu esperava, pois seria uma disputa entre pares. Sucedeu o contrário. Foi um tratoraço descomunal, um jogo tão pesado que em menos de seis semanas o jogo mudou.

A interferência do governador foi um desrespeito com quem nunca faltou com o partido. Até por gratidão, o governador teria que manter-se com isenção acima da disputa e acima da suspeita. Se ele encontrasse a porta do PMDB fechada, o seu projeto político teria sido inviabilizado. Por tudo isso, o governador não poderia jogar a máquina contra mim. Era a mínima conduta ética que deveria ter. É bem verdade que hoje há generosas promessas. Mas não posso aceitar por dois motivos. Por entender que a oferenda não paga a quem acumulou 44 anos de partidarismo. E o mandato político é do interesse público. O mandato é transitório, já a dignidade é permanente.”.

Para mostrar que não se ‘venderia’, Pereira recitou os versos que ficaram imortalizados na voz de de Paulinho da Viola. “Tenho pena daqueles, que se agacham até o chão, enganando a si mesmos com dinheiro, posição. Eu nunca timei parte, desse enorme batalhão, pois sei que além de flores nada mais vai no caixão”, declamou, e continuou o discurso.

“No conflito entre valores éticos que sempre orientaram minha vida pública, não alimento nenhuma dúvida. Não tendo sido vassalo da ditadura, não há de ser agora que aceitarei a submissão. Mesmo que seja um risco as minhas.

O senador Jarbas Vasconcellos (PMDB/PE), tomou a palavra e disse que “Nem sempre tivemos convergências, combatemos a ditadura juntos. Não poderia nesta tarde deixar de falar sobre sua correção e lealdade. Não posso entrar no mérito do que aconteceu, mas uso de máquina não é um bom exemplo, não é uma coisa eficaz. Quero registrar que eu quero da direção do partido é distância. Reconheço sua luta dentro do partido, nunca o vi ameaçar deixar partido, e estranho esses fatos que lhe atingiram”, declarou.

Ao que Valter Pereira, continuou. “Confesso que num dado momento fiquei divido entre romper e adotar outras medidas mais severas. E ouvi você, senador Simon, Sarney e o líder dessa casa. Debati com companheiros que foram leais a mim e militantes antigos. Fixei-me na decisão de deixar meus compromissos políticos com o Governador, mas continuo com meus compromissos políticos com o PMDB”, disse.

Para anunciar que não sairia do partido, Valter finalizou com o seguinte recado.

“O PMDB que construímos é o partido da participação e não da submissão. Da convivência fraterna e não do rancor. Da liberdade e não da ditadura. Quero dizer aqui que o PMDB é maior que certos dirigentes” disse emocionado.

Histórico

A relação do senador com os principais líderes do PMDB, Puccinelli um deles, já estava estremecida desde a segunda metade do ano passado, quando a sigla já se preparava para lançar um pré-candidato ao Senado.

Na época das prévias, o comando regional do PMDB fortaleceu as intenções políticas do deputado federal Waldemir Moka, que será o candidato ao Senado pelo partido, deixando para trás as pretensões de Valter Pereira, que ensaiava sua pré-candidatura pela reeleição.

Ainda no dia da disputa, durante a votação, o senador denunciou o adversário, que estaria convencendo eleitores por meio da compra de votos. A denúncia não foi investigada, e o senador não levou adiante a sua suspeita.

Há duas vagas em disputa neste ano, mas o PMDB decidiu lançar apenas um nome e deixar o outro espaço para algum partido aliado, daí ter realizado as prévias. A Valter Pereira restou escolher um projeto alternativo, como concorrer à Câmara Federal, por exemplo. Prêmio de consolação, que Valter já deixou claro que não aceitou...

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