domingo, 29 de março de 2009

O direito de ir e vir (Sebastião Nery)

BELO HORIZONTE – Minas rusgou anos seguidos com o Espírito Santo por causa dos limites, das fronteiras entre os dois estados. O coração da briga era a cidade de Mantena, mineira, quase à beira do rio Doce. Juscelino, homem da paz, era presidente quando estourou uma luta feia entre capixabas e mineiros. Mineiros queriam anexar capixabas, capixabas queriam comer uma banda de Minas.

Começou a morrer gente de lado a lado. JK chamou ao Rio os governadores Bias Fortes, de Minas, e Carlos Lindenberg, do Espírito Santo. Duas horas de reunião a três, no Catete. Os jornalistas lá fora esperando. Abre-se a porta, sai Bias Fortes, com seu vozeirão engasgado :

- Tudo resolvido.

O jornalista Pedro Gomes queria mais detalhes:

- Resolvido como, governador?

- Acabou-se o “quiproquó”, permanece o “status quo”.

O latim de Bias Fortes não deixou haver mais tiros em Mantena.

Mantena

E de repente aparece em Belo Horizonte, eleito pelo PSD, com uma votação extraordinária, o deputado estadual Chiquinho, um matuto muito astuto, muito esperto. Seu colégio eleitoral era exatamente Mantena. Teve mais votos lá do que todo o eleitorado da cidade.

Tentei apurar:

- Deputado, qual é o eleitorado de Mantena? O senhor só teve votos ali na região? Como o senhor teve mais votos do que os eleitores?

- Meu filho, nós somos contra os capixabas, brigamos com eles por causa dos limites, mas reconhecemos que eles têm os mesmos direitos que nós. Portanto, podem também votar.

- Mas eles são eleitores no Espírito Santo. Como é que podem votar do lado de cá, do lado de Minas?

- Ora, meu filho, a Constituição assegura o direito de ir e vir.

Aécio

Amigos do governador Aécio Neves aqui se queixam de que não entendem como, nas pesquisas, ele tem tantos votos em Minas e tão poucos no resto do País. Esse é o problema de Aécio. Tem que arranjar um marqueteiro Chiquinho para ensinar como ter voto também fora de Minas.

A Constituição assegura a todo brasileiro o direito de votar em Aécio. Se ele não está tendo, fora dos limites de Minas, os votos que gostaria de ter, o problema deve ser mais dele do que dos eleitores. Desde a década de 50, o constitucionalista deputado Chiquinho de Mantena já sabia disso.

Tucano é ave de voo baixo, mas quando aprende voa alto.

Sarney

Sarney não sai das páginas. Das políticas e das beirando as policiais:

1 - “Em 2003, a jornalista e advogada Elga Maria Teixeira Lopes, que participara da campanha da senadora Roseana Sarney, do PMDB do Maranhão, para o governo do estado no ano anterior, foi indicada pelo então senador Sarney para chefiar a tal Diretoria de Modernização Administrativa e Planejamento. Hoje, foi recém-nomeada para dirigir a enorme máquina de comunicação do Senado, com 20 secretarias”.

2 – “Ela conta que foi contratada para trabalhar nas campanhas de Sarney ao Senado, em 1998, e de Roseana, em 2002. Depois, foi contratada para essas diretorias como comissionada, pois não é concursada. Todos por lá afirmam que 70% das 181 diretorias foram criadas após a chegada da dupla Sarney/Agaciel ao comando do Senado” (Maria Lima, Adriana Vasconcelos e Diana Fernandes, “O Globo”).

Assim, as campanhas de Sarney ficam baratinhas, baratinhas. Tem quem pague, e muito bem, e por longo, longo tempo. Nós: vocês e eu.

Rabinos

É por isso que muita gente prefere o “Big Brother”, o telebordel do Pedro Bial, a ler jornal. Cada dia a barbárie toma mais conta do mundo:

- “Rabinos incitaram à Guerra Santa em Gaza”.

Quem disse foi o jornal “Ha’aretz”, de Israel. E, de Jerusalém, a Renata Malkes, correspondente do “O Globo”, traduziu e mandou a matéria:

“Contou um dos soldados: ‘A mensagem dos rabinos era muito clara. Nós somos o povo judeu, nós chegamos a esta terra por milagre. Deus nos trouxe de volta à terra de Israel e agora temos que lutar para expulsar os gentios (sic), que estão interferindo em nossa conquista da Terra Santa’. As revelações foram obtidas num seminário realizado na Academia Militar Itzhak Rabin para discutir as experiências dos oficiais durante os 22 dias da ofensiva militar que deixou pelo menos 1.400 mortos na Faixa de Gaza”. (Do lado de Israel, só 13. E, desses, 12 em desastres.)

Ainda prefiro rabino furtando gravata em Miami. Não mata ninguém.

Caseiros

Se pedir confirmação, todos vão negar. Mas é a nova onda que rola muito sarcasticamente pelos bastidores do PT paulista. O PT de São Paulo, em vez de se dividir politicamente, dividiu-se operariamente: “contra-caseiro” e “pro-caseiro”. “Contra-caseiro” são os que querem o Palocci candidato do partido a governador do estado. É a “tendência” contra o “bisbilhoteiro” Francenildo, o caseiro piauiense da “Casa do Amor”.

A outra “tendência” é a dos que não aceitam o Palocci e querem o Emidio de Souza, prefeito de Osasco, candidato a governador pelo partido. São os a favor do caseiro Francenildo, desempregado pelo “affaire” Palocci. Pode acabar sendo uma campanha surpreendentemente erótica.

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