domingo, 7 de outubro de 2007

PMDB desiste de indicar relator para CPI das ONGs após pressão do PT

03/10/2007 - 20h54

GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

Pressionado pelo governo, o PMDB desistiu de indicar o relator da recém-instalada CPI das ONGs (organizações não governamentais) no Senado. Com o veto do PT ao nome do senador Valter Pereira (PMDB-MS), o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), disse que a legenda vai abrir mão do cargo na CPI.

"O PMDB não vai indicar a relatoria da CPI das ONGs, está se abdicando. Entendemos que não é interessante neste momento para o PMDB porque essa CPI vai ser muito complicada", afirmou.

Oficialmente, Raupp argumenta que o partido havia reservado para Pereira a relatoria do Orçamento Geral da União em 2008. "A CPI das ONGs deve se estender por todo o ano, ele não poderia acumular as duas funções. Eu acho que a relatoria das CPIs nos últimos tempos tem sido um verdadeiro abacaxi", disse o líder.

Pereira apresentou, no entanto, uma outra versão pelo recuo na sua indicação à relatoria. O peemedebista disse que o Palácio do Planalto, orientado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pressionou o PT a derrubar a sua escolha e indicar o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) para a função.

"A instância que está decidindo isso está muito acima do Inácio [Arruda], poderá estar com outro Inácio. Meu veto é do Planalto, o presidente não quer a minha indicação", afirmou.

Pereira evitou revelar os motivos que teriam levado o governo a vetar sua indicação, mas nos bastidores peemedebistas admitem que o presidente teme que o senador adote postura próxima da oposição nas investigações. Na semana passada, Pereira foi um dos "franciscanos" do PMDB que liderou a rebelião no partido --que resultou na rejeição da medida provisória do governo que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo.

Irritado com o Palácio do Planalto, Pereira disse não estar disposto a participar da reunião de Lula com a bancada do PMDB no Senado --que deve ocorrer nas próximas semanas para afinar o discurso com os senadores peemedebistas depois da crise.

"Você acha que eu iria jantar com um presidente que vetou o meu nome para a CPI?", questionou.

Raupp negou que Lula tenha influenciado no veto ao nome de Pereira. "O Palácio do Planalto pode até torcer, mas jamais interferir em uma decisão do partido", afirmou. O líder também disse não acreditar em "retaliação" do governo pela rebelião da bancada na semana passada.

Mudança

Após ter a confirmação de que o PMDB vai abrir mão da relatoria para que Arruda assuma a função, Pereira disse que vai "rever" sua postura na base aliada do governo. "Eu tenho uma história de disciplina partidária que vem desde os anos 60. Tenho acompanhado as votações da bancada do PMDB na condição de partido da base aliada. Essa situação vai me obrigar a avaliar nova postura daqui para frente."

Pereira disse, no entanto, que não pretende deixar o PMDB mesmo em meio à crise que atinge o partido. "Com todas as contradições internas, ele é o meu partido. Com ele tenho uma relação que dificilmente me levaria a essa situação", encerrou.

O peemedebista vai conversar com outros senadores da bancada esta semana em busca de apoio, o que pode trazer problemas ao governo no Senado. Se o grupo dos chamados "franciscanos" ganhar força, pode colocar em risco a votação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que prorroga a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) até o ano de 2011.

Fonte: Folha Uol

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u333678.shtml

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