segunda-feira, 16 de junho de 2008

Câmara realiza audiência do ‘caso Alstom’ nesta 3ª - (Josias de Souza)

A Câmara dos Deputados discute nesta terça-feira (16) um tema que o PSDB conseguiu interditar na Assembléia Legislativa de São Paulo: o caso Alstom.



A encrenca será debatida em audiência pública marcada para as 14h30, na Comissão de Desenvolvimento Econômico.



Tenta-se atrair para o ambiente legislativo uma apuração que vem sendo conduzida pelo Ministério Público –o Federal e o do Estado de São Paulo.



A Alstom é uma das maiores empresas do mundo nos setores de transporte e energia. Encontra-se sob investigação na Suíça e na França.



Acusam-na de pagar propinas a funcionários públicos e a políticos da Ásia e da América Latina para beliscar contratos milionários na esfera pública.



No Brasil, fez negócios com os sucessivos governos tucanos de São Paulo –de Mário Covas a José Serra, passando por Geraldo Alckmin.



As maiores suspeitas recaem, por ora, sobre os períodos de Covas e Alckmin. Uma delas envolve um suborno de R$ 3,4 milhões.



Dinheiro que, segundo investigadores suíços, molhou a mão de servidores públicos e políticos. E assegurou contratos com a Eletropaulo e com o metrô de São Paulo.



A Alstom também fechou negócios em outros Estados e em estatais federais. Entre elas a Eletrobrás.



Chama-se Aloísio Vasconcelos um dos convidados para a audiência pública da Câmara. Vem a ser presidente da Alstom no Brasil. Encontra-se afastado do cargo.



Em maio passado, foi incluído pelo Ministério Público no rol de 61 denunciados da Operação Navalha, aquela que esquadrinhou as malfeitorias da empreiteira Gautama.



Aloísio escalou o pólo passivo da denúncia não por conta dos negócios da Alstom, mas por atos que praticou à época em que presidiu, sob Lula, a Eletrobras.



Comandou a estatal entre o final de 2005 e todo o ano de 2006. Homem do PMDB, ganhara o posto por indicação dos senadores José Sarney e Renan Calheiros.



Na Eletrobrás, Aloísio era subordinado ao então ministro Silas Rondeau (Minas e Energia), outro apadrinhado de Sarney denunciado na Operação Navalha.



Autoras da denúncia, as subprocuradoras da República Célia Regina Delgado e Lindôra Araújo acusam Aloísio de ter propiciado o desvio de verbas do Luz para Todos, programa prioritário da gestão Lula.



Além de Aloísio, os deputados da Comissão de Desenvolvimento Econômico convidaram para a audiência desta terça dois membros do Ministério Público.



São eles: Silvio Marques, do MP de São Paulo; e Rodrigo de Grandis, do MP Federal. A dupla requisitou e obteve a papelada recolhida pela Procuradoria da Suíça sobre as estripulias da Alstom no Brasil.



De resto, a lista de convidados inclui o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa.



Deve-se aos deputados Fernando Praciano (PT-AM) e Ivan Valente (PSOL-SP) a apresentação da proposta de audiência.



Um pedido que o presidente da comissão, Jilmar Tatto (PT-SP), não hesitou em levar a voto. Foi aprovado há 13 dias, por dez votos contra sete.



Tatto é velho aliado da candidata petista à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy. Está na briga para compor a chapa da ex-ministra do Turismo, na condição de vice.



É justamente para evitar que o caso Alstom vire um tema da campanha paulistana que o PSDB acionou a sua tropa de elite na Assembléia Legislativa.



Majoritário, o tucanato interditou o debate no Estado. A audiência da Câmara abre em Brasília um dique alternativo.

Escrito por Josias de Souza às 02h17

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15/06/2008
Índios da Raposa Serra do Sol buscam apoio europeu



Encontram-se na Europa duas lideranças indígenas de Roraima. Foram buscar apoio em favor da ratificação, pelo STF, do decreto que demarcou a reserva indígina Raposa Serra do Sol.



A turnê européia é capitaneada pelo "macuxi" Jacir de Souza, membro do CIR (do Con­selho Indígena de Roraima); e pela "wapichana" Pierlangela da Cunha, coordenadora da OPIR (Organização dos Professores Indígenas de Roraima).



Os líderes indígenas são ciceroneados pelo antropólogo espanhol Luis Ventura. Deu-se à cruzada o nome de “Anna Pata, Anna Yan”, que significa “Nossa Terra, Nossa Mãe.”



A turnê européia começou pela Espanha. Nos próximos dias, se extenderá à França, Inglaterra, Alemanha e Itália.



Na fase final, os representantes dos índios vão á Bélgica. Ali, serão recebidos no Parlamento Europeu.



A peregrinação encerra-se em Portugal, entre os dias 3 e 7 de julho. De Lisboa, o makuxi Jacir e a wapichana Pierlangela retornam a Roraima.



Além de suporte político, os índios pedem auxílio financeiro internacional. Alegam que precisam de dinheiro para a defesa de sua causa. Não se sabe, aliás, quem financia a turnê européia.



Demarcada sob FHC, a reserva indígena Raposa Serra do Sol foi ratificada por um decreto de Lula, em 2005. A despeito disso, produtores de arroz permaneceram na área.



Em ação movida no STF, o senador Augusto Botelho (PT-RR) questionou a demarcadação. Em petição protocolada no Supremo, o governo de Roraima fez o mesmo. O julgamento da causa, que ocorreria em junho, foi adiado para agosto.



A Polícia Federal chegou a se deslocar para a região com a propósito de retirar os arrozeiros à força. O tempo fechou. E, em decisão liminar (temporária), o STF sustou a ação da polícia.



No início de maio, índios se confrontaram com seguranças do arrozeiro Paulo César Quartiero. Sob a alegação de que sua propriedade fora invadida, Quartiero mandou que seus funcionários reagissem a bala. A PF socorreu os feridos.



Além de produtor de arroz, Quartiero é prefeito do município de Pacaraima (RR) chegou a ser detido pela PF. Foi transferido para a carceragem de Brasília. Mas um habeas corpus determinou que fosse posto em liberdade.



O périplo europeu dos indígenas ganhou adesão instantânea de uma revista de Portugal. Chama-se Fátima Missionária. É cinqüentenária. Tem 33 mil assinantes.



Em sua página na internet, a publicação portuguesa veicula peças com viés nitidamente favorável à causa indígena. Ali, os arrozeiros são tratados como malfeitores.



“Os arrozeiros devem ser impedidos de continuar a enviar jagunços para abrirem fogo contra os indígenas que vivem pacificamente em suas terras” anota um dos textos da Fátima Missionária.



“A presença deles na área da Raposa Serra do Sol é altamente prejudicial. Produzem arroz sem nenhum cuidado ambiental, desviam cursos de água, utilizam produtos agrários tóxicos, destroem as matas ciliares...”



“...Abatem o património público, como as pontes, lançam bombas caseiras contra os índios. Para que cesse a violência, a intimidação e as sucessivas ameaças, as comunidades da Raposa Serra do Sol exigem que eles abandonem o seu território...”



A revista divulgou as peças que compõem o arsenal mobilizado simultaneamente à viagem dos líderes indígenas à Europa.



Há, entre outras peças: o “texto base” da campanha; um vídeo com o arranca-rabo ocorrido na propriedade do arrozeiro César Quetiero (assista lá no alto); uma carta a ser enviada a Lula; um abaixo assinado em favor da causa indígena, escrito pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos; e um texto de Frei Beto.



A missão européia dos índios deve tonificar a pregação dos arrozeiros e seus simpatizantes. Um discurso que pode ser resumido numa frase, dita por César Quartiero em 28 de maio:



"A questão dos índios está mal colocada. Existem ONGs que incentivam a violência dentro das comunidades."

Hazir Reka/Reuters

Escrito por Josias de Souza às 20h13

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